No passado eram chamados de “trunfos”, as representações artísticas que retratavam a vitória, o triunfo de alguém ou de um povo. Os triunfos também ilustravam convites e capas de livros.

As vitórias, os triunfos podiam ser exaltados em desfiles militares, poemas, canções e pinturas. No estudo do arcano VII, O Carro, podemos ler sobre os desfiles de triunfadores romanos.

Nos sonetos do livro I Triomphi de Petrarca (1304 – 1374), intelectual, poeta e humanista italiano, podemos  ler a história de um amor platônico, no qual a castidade  triunfa  sobre o amor. A morte triunfa sobre a castidade. A fama triunfa sobre a morte. O tempo triunfa sobre a fama e a eternidade triunfa sobre o tempo.

Carro triunfal da Morte
A morte triunfa sobre a castidade representada pela jovem vestida de branco.

Nos jogos de cartas, os trunfos são cartas especiais que predominam sobre as demais e podem dar a vitória ao jogador. No tarô oracular, os trunfos são, hoje em dia, chamados de arcanos maiores.

Os trunfos também aparecem na literatura. No passado, eram usados para poemas no qual homenageavam ou desprestigiavam uma pessoa.

Teófico Folengo (1491-1544)

No livro escrito por Teófilo Folengo  em 1537, chamado  “CAOS DE TRIPERUNO” , podemos ver os trunfos sendo usados para ler a sorte:

 “LIMERNO; … Eu peço a você, meu caro Triperuno, deite-se sobre a sombra daquela arvore, enquanto eu reviso alguns versos com minha lira. Hoje a noite, devo recitá-los em frente a rainha, e eu tenho muito o que fazer para tornar apresentáveis os 4 sonetos que ela pediu.

TRIPERUNO: Esse jeito de compor, a partir do pedido de alguém é difícil de satisfazer àqueles que não tomaram parte no processo. Mas, por gentileza, diga-me, antes de eu sair, qual o assunto dos 4 sonetos.

LIMERNO: Te direi rapidamente. A rainha não é propriamente a razão para eles: ontem Giuberto e Focilla, Falcone e Mirtella me chamaram secretamente para um quarto onde, depois deles terem achado um jogo de cartas de Trunfos, dividiram as cartas entre eles ao acaso. Cada um disse-me quais trunfos recebeu ao acaso, pedindo-me para compor um soneto sobre elas.

TRIPERUNO: Muito difícil o assunto que a sorte te reservou, mais do que teria escolhido o poeta.

LIMERNO: Este motivo deu-me uma boa desculpa para ser apresentado a pessoas inteligentes, se meus versos não forem muito fáceis como a natureza da poesia requer. Agora, vamos ver em primeiro lugar o acaso ou sorte de Giuberto; depois disso, vou recitar sem mais nem menos, o soneto correspondente, onde você será capaz de perceber que os referidos trunfos atribuídos por acaso a cada soneto, serão nomeados por quatro vezes, como você pode entender, com a ajuda das figuras maiores:

GIUSTIZIA, ANGIOLO, DIAVOLO, FOCO, AMORE

Quando ‘l Foco d’Amor, che m’arde ognora,
penso e ripenso, fra me stesso i’ dico:
— Angiol di Dio non è, ma lo nemico
che la Giustizia spinse del ciel fora.

Ed è pur chi qual Angiolo l’adora,
chiamando le sue fiamme « dolce intrico ».
Ma nego ciò, che di Giustizia amico
non mai fu chi in Demonio s’innamora.

Amor di donna è ardor d’un spirto nero,
lo cui viso se ‘n gli occhi un Angiol pare,
non t’ingannar, ch’ è fraude e non Giustizia.

Giustizia esser non puote, ove malizia
ripose de sue faci il crudo arciero,
per cui Satàn Angiol di luce appare.

…Agora eu vou para o segundo soneto, o qual contém a sorte de  Focilla.

MONDO, STELLA, ROTA, FORTEZZA, TEMPERANZIA, BAGATTELLA

Questa fortuna al mondo è ‘n Bagattella,
ch’or quinci altrui solleva, or quindi abbassa. Non è Tempranzia in lei, però fracassa
la forza di chi nacque in prava Stella.
 

Sol una temperata forte e bella
donna, che di splendor le Stelle passa,
la instabil Rota tien umile e bassa;
e ‘n gioco lei di galle al mondo appella.

Costei tempratamente sua Fortezza
usato ha sempre, tal che ‘l Mondo e ‘nsieme
la sorte de le Stelle a scherzo mena.

Ben può fortuna con sua leggerezza
ir ne le Stelle di più forze estreme:
chi sa temprarsi lei col Mondo affrena.

… chego ao assunto obscuro dos trunfos desordenados de Falcone, a quem, acima de tudo, a melhor sorte tinha que acontecer.

LUNA, APPICCATO, PAPA, IMPERATORE, PAPESSA


Europa mia, quando fia mai che l’una
parte di te, c’ha il turco traditore,
rinfràncati lo Papa o Imperatore,
mentre han le chiavi in man, per lor fortuna?

Aimè! la traditrice ed importuna
ripose in man di donna il summo onore ( Fortuna fatta Papessa. )
di Piero e tiene l’imperial furore
sol contra il giglio e non contra la Luna.

Che se ‘l papa non fusse una Papessa
che per un piè Marcin sospeso tiene,
la Luna in griffo a l’aquila vedrei.

Ma questi papi o imperatori miei
fan si, che mia Papessa far si viene
la Luna, e vo’ appiccarmi da me stessa.

vejamos finalmente o soneto de Mirtella, cuja sorte foi esta:

SOLE, MORTE, TEMPO, CARRO, IMPERATRICE, MATTO

Simil pazzia non trovo sotto ‘l Sole,
di chi a gioir del Tempo tempo aspetta:
Morte, su ‘l Carro Imperatrice, affretta
mandar in polve nostra umana prole.

Al Sole in breve tempo le viole
col strame il villanel sul Carro assetta:
Matto chi teme la mortal saetta,
ch’anco l’Imperatrici uccider vole.

Però de’ sciocchi avrai sul Carro imperio
s’indugi, donna, più mentre sei bella,
che ‘l Sol d’ogni bellezza invecchia e more.

Godi, pazza! che attendi? godi ‘l fiore!
fugge del Sol il Carro, e il cimiterio
la nera Imperatrice empir s’abbella.

No livro, o quinto soneto sobre tarô diz:

Versão em espanhol:

Amor, actos bajo cuyo imperio  van sin tiempo y sin fortuna,
vio la muerte, fea y oscura, en un carruaje,
pasando entre la gente y llevándosela del mundo.
Ella preguntó: “Ningún papa o papisa fueron derrotados por usted.
Llamas a eso justicia?”
Él respondió: “El que hizo el sol y la luna
los defendía de mi fuerza”.                                                                             

 “¡Qué loco/Tonto soy,” dijo Amor, “mi fuego,
que aparece como un ángel o como un demonio
puede ser templado por algunos que viven bajo mi estrella.
Tú eres la emperatríz de los cuerpos.                                                    

Pero no puedes matar corazones, solo suspenderlos. Tienes un nombre de gran fama, pero no eres más que un tramposo.”

Tradução:

O Amor, cujos atos sob seu império vão sem tempo e sem sorte, viu a morte, feia e escura, passar em sua carruagem, entre as pessoas e as levar do mundo. Ela perguntou:  Nenhum papa ou papisa foi derrotado por você. Chamas isso de justiça?

Ele respondeu: Quem com o sol fez a lua, os defendia de minha força.  Que louco, tolo sou , disse o amor, –  meu fogo, que aparece como um anjo ou como um demônio, pode ser esfriado por alguns que vivem sob a minha estrela. Tu és a imperatriz dos corpos. Mas não podes matar corações, apenas suspendê-los. Tens um nome de grande fama, mas não és mais do que uma engambeladora.

SONETO ao TARÔ
AmorEnamorados   Arcano 6
ImperioImperadorArcano 4
TiempoEremitaArcano 9
FortunaRoda da Fortuna Arcano 10
MuerteMorte Arcano 13
CarruajeCarroArcano 7
MundoMundo Arcano 21
PapaPapaArcano 5
PapisaPapisaArcano 2
GiustiziaJustiçaArcano 8
SolSol Arcano 19
LunaLua Arcano 18
FuerzaForça Arcano 11
LocoLoucoArcano 0
FuegoTorre Arcano 16
ÁngelJulgamento Arcano 20
DemonioDiabo Arcano 15
TempladoTemperança Arcano 14
EstrelaEstrela Arcano 17
EmperatrízImperatrizArcano 3
SuspenderlosEnforcado Arcano 12
TramposoMagoArcano 1

Os poemas forçavam o poeta a buscar adjetivos para os arcanos. Isso contribuiu para que as cartas ganhassem significados e fossem conhecidas por mais de um nome.