Resgate da Essência

O artista plástico Eduardo Vilela criou 22 telas a óleo, de 1,3 X 0,9m, inspiradas nos Arcanos Maiores. As imagens constam do livro  Resgate da Essência, da editora Visualart, publicado em 2002. Além da reprodução das telas em 20 X 15cm, o livro traz também os comentários de Paulo Urban a respeito de cada carta.

0 – O LOUCO

O Louco é o inspirado artista que, escapando das regras habituais e transformando o mundo com sua sabedoria inconsciente, coloca-se como questionador da vida,  servindo-se de ponte para a humanidade que busca resgatar a sua essência.

1 – O MÁGICO / O MAGO

Nesta primeira tela encontramos a representação do “Mysterium Coniunctionis”, isto é, a conjunção dos opostos, do humano com o divino.
O homem, aqui transcendendo a realidade tridimensional e mundana, encontra-se liberto e inserido na Luz Maior, que resgata em sua identidade  a essência do divino.

2 – A PAPISA

Mais do que um complemento, esta segunda tela consiste numa compensação para a primeira. Representa o mistério  da dualidade, cuja função psicológica é a de instigar a consciência a elevar-se indefinidamente, num caminho cíclico em espiral, às profundezas do “Si-mesmo”.

3 – A IMPERATRIZ

Nesta terceira lâmina, a essência feminina e intuitiva do arcano precedente se desdobra na criatividade inconsciente, capacidade esta que impera sobre o mundo por poder levar consigo o germe da vida, bem guardado e protegido em seu ventre.

4 – O IMPERADOR

O Imperador é o guardião de nossa consciência, cuja essência masculina é reflexo do inconsciente feminino, e nos permite organizar o pensamento para regrar cada uma de nossas atitudes que, em última análise,  estão sempre dando continuidade ao Ato da Criação.

5 – O PAPA

Neste arcano,a figura humana prescinde da imagem do Papa como mediador entre Deus e os homens, preferindo ela própria ocupar o plano superior da tela, onde a divindade possa ser percebida em si mesma, e não como algo supremo mas inatingível, de cuja natureza só possamos ter idéia por meio dos modelos mantidos pelos dogmas.

6 – OS ENAMORADOS

O Enamorado salienta as possibilidades inesgotáveis de relacionamento dos seres humanos entre si, que embora separados por sua individualidade, quando intuem estar comungando da mesma forma, dão se conta de que a verdadeira natureza humana é uma só.

7 – O CARRO

Nesta lâmina os elementos anímicos tanto da instância inconsciente quanto consciente se “desgarram” do psiquismo sugerindo um processo de “Extroversão”, caracterizado pela concentração do interesse voltado para a realidade extra-psíquica.

8 – A JUSTIÇA

Nesta lâmina, a figura humana assume o plano central e superior, arquetipicamente divino, e interfere com seu ato cármico na relatividade de nosso mundo de contrastes, equilibrando com Justiça e Perfeição as forças cósmicas que interagem em nossa dimensão.

9 – O EREMITA

O reencontro com si mesmo é o momento culminante do processo solitário de busca pessoal (individuação), aqui ressaltado pela atitude introspectiva do Eremita. Mas tal comunhão não pressupõe fim algum para o caminho, senão a libertação espiritual num movimento de ascese, tornando possível nossa reintegração ao Cosmos.

10 – A RODA DA FORTUNA

A  “Roda da Vida” nos propõe uma visão ampla do movimento da vida e de suas contrastantes manifestações, resgatando o principio da Unidade divina e o conceito de Justiça Cármica, subjacente a toda divindade percebida.

11 – A FORÇA

Paradoxalmente, o arcano XI representa o “meio” de uma jornada sem fim. Isto porque é o único arcano que somado a si mesmo (11+11), compreende a totalidade sugerida pelo conjunto dos 22 arcanos. É também o ponto de mutação, momento que conjura todas as forças que se equilibram numa mandala, capazes de operar, quando em harmonia, a verdadeira transmutação da pedra bruta numa essência áurea e luminosa.

12 – O PENDURADO

O Enforcado, quando orientando em torno de seu centro, descobre que é preciso  morrer simbolicamente, tornando-se inevitável o sacrifício de sua mandala pessoal, para que possa penetrar na mandala transcendente, ajustada à fonte cósmica de Vida.

13 – A MORTE

Um germe de luz primordial, banhado pelas águas divinas, a tudo permeia com sua essência vital, penetrando em todas as formas animadas ou inanimadas, e conferindo à morte um caráter dialético, pois se por um lado sugere o fim da existência, por outro nos remete a um processo de transformação perene, cuja função é a de renovação da Vida.

14 – A TEMPERANÇA

A Temperança é a arte alquímica que visa a atingir, por meio de pacienciosa busca, o ponto de Mutação capaz de unir os opostos, revelando a unidade do Cosmos. Economia, parcimônia, perseverança e equilíbrio, regram este amplo movimento que interfere no que está em cima e no que está embaixo.

15 – O DIABO

O Diabo é a essência do movimento involutivo, contrapondo-se ao ato da criação. Embora seja, em última análise, um dos muitos aspectos da própria divindade, o Diabo entrega aos homens, como Prometeu, o “fogo da consciência” e da Razão. Esta, embora distinga o ser humano das demais formas de vida, acaba por fortalecer demais o Ego, constituindo-se numa barreira a ser transposta para o verdadeiro resgate da Unidade Divina.

16 – A TORRE

A torre, arquitetada pelo ego sob pretexto de defesa da personalidade, acaba por se tornar uma verdadeira prisão cerceadora da liberdade de percepção do Ser.
Mediante uma ação radical, o inconsciente explode a sólida fortaleza, e em meio às suas ruínas vislumbra-se o Portal da Transcendência, a partir do qual consciente e inconsciente se aproximam numa só experiência de percepção infinita.

17 – A ESTRELA

A extrela ressalta a experiência intuitiva capaz de perceber de antemão a viabilidade do processo de Individuação, que, embora reserve provações das mais difíceis, pode ser vencido pela Confiança dos que nele acreditam. Toda Estrela a brilhar no céu representa um herói individuado.

18 – A LUA

Regendo a sensibilidade, a Lua nos guia para que possamos mergulhar intuitivamente no lado oculto de nosso psiquismo, de modo a assimilar seu obscuro conteúdo numa verdadeira “prova iniciática das águas”, que, mesmo oferecendo seus perigos, nos reserva a possibilidade da complementação anímica.

19 – O SOL

Este arcano expressa a experiência de plenitude decorrente da comunhão do ego com o verdadeiro núcleo psíquico. Em termos esotéricos, exprime a iluminação da alma conquistada pela passagem com êxito pela “prova iniciática do fogo”. É um momento de ampliação da consciência e ao mesmo tempo de transcendência dela própria.

20 – O JULGAMENTO

O arbítrio, tanto maior quanto mais ampla a consciência, é o fiel  desafiante do Destino. Este último, embora abarque com suas mãos a totalidade das escolhas pessoais, paradoxalmente, guarda em seu âmago a essência da plena liberdade, a mesma que se expressa e se perpetua sempre que a nós se nos oferece a  mera chance de uma escolha.
Permanecer preso ao mundo da culpa e das ilusões , ou transpô-lo  em busca da síntese  do infinito, é também uma questão de simples escolha.

21 – O MUNDO

O Mundo expressa o coroamento do processo da Individuação, que por ser interminável, abre-nos incríveis portas para a inquietude e questionamentos sempre maiores. Representa a síntese, mas nunca o fim, desta viagem arquetípica pelos campos do infinito e para bem perto do “si-mesmo”.